sexta-feira, fevereiro 17, 2006

A Queda de Frank Miller



A foto aí em cima é do Frank Miller participando recentemente de uma exibição de Sin City. Já essa ilustração ao lado "parece ser" o Clark na capa alternativa de All Star Batman #4, que ele vem capitaneando (clique em cima pra aumentar se quiser, mas...).

Sério mesmo, não li nem uma linha sequer de All Star Batman e tenho um enorme receio de fazê-lo. Demorou horrores pra que eu me acostumasse a encarar DK2 como uma paródia aos padrões que ele mesmo criou (paródia esta nem tão eficiente assim, diga-se). Agora, a cada notícia do Newsarama, Silver Bullet ou Omelete a respeito de ASB é um arrepio percorrendo a espinha. Fora que o cara tá desenhando mal pra caceta. Não dá pra levar o traço atual dele como estilo. Parece preguiça mesmo. Logo ele, pra mim um dos desenhistas mais inteligentes, carismáticos, dinâmicos e, ao mesmo tempo, minimalistas da área (foi meu desenhista favorito por muito tempo... mas isso foi o quê? Desde 300?).

O fato é que Miller parece estar fazendo outra paródia dessa vez, mas da sua própria carreira. Tudo o que ele anda fazendo em relação aos quadrinhos pop que o consagraram parece vir acompanhado de uma extrema omissão de talento. É irônico. Sabemos que o cara ainda pode alçar vôos estratosféricos, que ele não sofre da senilidade criativa que acometeu, sei lá, o Chris Claremont, p.ex. (pobre Chris). O oposto imediato parece ser mesmo os seus projetos para o cinema, como a carreira promissora da adaptação de 300 e a esperada continuação de Sin City - ambas girando em torno de suas criações dentro da nona arte.

Então o caso de Frank Miller é o quê? Desdém pelas majors das hqs, uma provável crítica ao tradicionalismo dos super-heróis (ainda difícil de se readaptar aos novos tempos) ou é apenas o vil metal mesmo (e não estou falando do Dínamo Escarlate)?

Lembro que, na época do lançamento de DK2, Alex Ross, aquele patcha desenhista, deu uma entrevista criticando Miller por este só estar fazendo a continuação de DK pra comprar uma cobertura em New York com a grana. Lembro também que fiquei puto com o Ross por conta disso. Como sou tolo.

Ass.: doggma

Bom assunto. Creio que Miller é o tipo do cara que acertou na loteria ao ter idéias fantásticas para um dos personagens mais populares das histórias em quadrinhos. Criou um marco, um divisor de águas e deu vazão à criatividade com mais alguns personagens de apelo popular para, então, trocar de brinquedo, ou seja, tentar transformar histórias sem heróis em algo vendável, interessante, algo assim.

Neste momento o desenho já não era mais o brinquedo principal, afinal ele tinha um brinquedo novo e que exigia muito mais dele: o roteiro. E conseguiu novamente acertar na loteria! Brincou com História – sem muito cuidado, há que se dizer – com potencialização de elementos que permeiam questões da sociedade contemporânea, com um pouco de um e um pouco de outro dando cara de coisa nova etc. Virou um cara alternativo-que-dá-suas-canjas-nas-majors. Nesta época seu traço já estava descaracterizado, adquirindo um aspecto de “pouco cuidado” que à época poderia ser chamado de “estilo”.

Passou um pouco de tempo e o apelo mercadológico exigiu que o cara ressuscitasse algo que não precisava ser revisitado. Saiu algo sem alma, meio que cuspido, com o nível de qualidade no desenho abaixo até do que chamávamos de esboço – exatamente o que o Doggma falou acima. Só que nesta época Miller já vinha flertando há algum tempo com um brinquedo novo... o cinema. Teve alguns fracassos e tal, até que a oportunidade suprema surgiu e a abraçou com todas as forças. Sucesso! O que acontece então? O novo brinquedo é o assunto para se dedicar e, tal qual a galinha dos ovos de ouro inicial, um novo filme já está em produção seguindo a mesmíssima receita de bolo anterior.

Desenhar é algo que parece não ser mais seu principal foco – daí estas desgraças de hoje – e o roteiro há que ser com linguagem cinematográfica para que o novo brinquedo seja sempre alimentado. Pode ser que, no futuro, desenhar e escrever quadrinhos de heróis (ou não... não espero esta exclusividade de forma alguma) volte a ser seu brinquedo, como um ciclo que precisa ser fechado, um auto-desafio como quem tenta reproduzir aquilo no que já foi muito bom. Pode ser que não. Não o culpo. Já tive vários brinquedos... adorava o Genius, Comandos em Ação, Maximus etc, mas enjoava sempre e queria algo novo. Outro dia achei meu Maximus guardado... brinquei durante um bom tempo com ele. É o tal ciclo. É até natural.

Ass.: Fivo


Começo o texto (e minha participação nesse blog) com a letra C capitular só manter o padrão ABC (e pra ver se copiei direito o código dos prezados colegas). Mas vamos trabalhar! Antes de mais nada, o assunto é ótimo, mas a pesquisa foi péssima. Batman All-Star é ruim de doer e neste momento amaldicôo o doggma (seus filhos serão fãs de Jeph Loeb, desgraçado!) por iniciar o post que me obrigou a ler essa tranqueira.

Pra contextualizar, deixo dito: gostei de DK2. Concordei com as críticas que diziam que aquilo era o Miller rindo de si mesmo, parodiando o próprio estilo, dizendo pra esposa "pode zonear com as cores no computador, os leitores vão comprar mesmo!". E achei válido, naquele momento histórico, digamos assim, como o CT original também foi em sua época. Ambos são obras do oportunismo de Mr. Miller, a diferença é que a obra original ultrapassou (e muito!) o objetivo e atingiu o status de obra atemporal.

All-Star Batman é outra história. Por mais boa vontade que se tenha, por qualquer ângulo que se olhe, é uma obra lastimável. O Batman de All-Star é um esteriótipo (ruim!) de todos os personagens noventianos que tinham a mesma atitude bad guy do Bruce em CT. Dá a impressão de que a revista é escrita por um péssimo imitador de Frank Miller que ainda coloca diálogos quase (QUASE!) tão ruins quanto os de Jeph Loeb.

Uma coisa que quem não leu pode ainda não saber: é uma história do Robin. O ponto cronológico da história (apesar dela estar em completa contradição com qualquer cronologia) é a morte dos pais de Dick Grayson. A própria revista tem como título completo "All-star Batman & Robin - The Boy Wonder" e deram à logo de capa uma inclinação de forma que o nome do menino-prodígio ficasse bem maior que o do morcego. Isso talvez explique algumas das cenas/falas embaraçosas envolvendo os justiceiros. Talvez todas as demonstrações explícitas de admiração de Bruce/Batman por seu futuro pupilo sejam uma forma de tentar (desesperadamente!) convencer o leitor de que "sim, esse garoto é mesmo especial, por isso a história pode ser sobre ele!".

Também podemos ver isso como Miller tentando (e não conseguindo) fazer graça com toda a mitologia do Morcego, fazendo citações à suspeita relação da dupla dinâmica na série dos anos 60, bem como às incongruências dos filmes burton-schumachianos, passando pelo estilo "Eu sou o Batman. Eu sou foda." da Liga do Morrison. Outra teoria seria a de que Miller chutou o balde da (auto)paródia e está partindo pra operações de guerrilha quadrinística, como se dissesse "vou fazer uma história em 12 partes sobre o bucha-mirim, vou avacalhar com a imagem de um ícone de 65 anos, vou escrever mal, vou chamar um cara que desenha mal e mesmo assim essa porcaria vai vender pra caralho e vocês vão encher meu bolso de grana". É uma opção improvável, mas não impossível.

De qualquer forma, não tenham dúvidas. Miller está mesmo de olho em outras mídias e quadrinhos hoje são só um dinheiro fácil (pra ele, claro!). E NÃO COMPREM, NÃO LEIAM, NÃO CHEGUEM NEM PERTO de All-Star Batman. A revista é tão ruim que até o anúncio da ótima All-Star Superman que está nela consegue ser péssimo, com o infame trocadilho "Grant Expectations". ARGH!

Ass.: JP

domingo, fevereiro 05, 2006

COMEÇANDO OS TRABALHOS

Não tenho lá muita base para dizer isto, mas creio que, passado o deslumbramento do início da internet, o comportamento das pessoas que usam computadores diariamente é, na verdade, uma reprodução virtual - guardadas as diferenças dos meios - daquilo que praticam no real. Sendo assim, percebemos que, se separarmos temas ou comportamentos, por mais vasto que seja o mundo www acabamos tendo uma espécie de "bairrismo" revisado, com escapadas aqui e ali. Mais ou menos como pessoas com gostos comuns, que variam os bares onde curtem um bom papo segundo o humor, mas são sempre aqueles: o boteco onde falamos das novidades, o restaurante para um assunto mais sério, o bar mais arrumadinho para um papo cabeça e o barzinho perto do trabalho para escapar do cotidiano. Mais dia, menos dia, todo mundo acaba se conhecendo nem que seja "de vista".

No caso de assuntos recorrentes da cultura pop não é diferente, assim como suas subdivisões. Quando falamos de quadrinhos, filmes, livros e música (dependendo dos estilos) e buscamos isto na web acabamos por encontrar sempre as mesmas pessoas - pelo menos as que se manifestam - em uma quantidade relativamente reduzida de sites. Tem aqueles que querem saber das novidades dos quadrinhos e têm dois ou três endereços certos, dependendo do tipo de abordagem que esperam. Mas estes também têm aquele dia em que querem esgotar um assunto, esticar mais a conversa além do "cara... viu o que aconteceu hoje?". Outros tantos curtem dar uma chegada naquele "bar" onde podem encontrar mais dicas para conseguir produtos daqui e de fora, dando uma passadinha antes naquele espaço onde vemos e falamos das mulheres sem qualquer vigia, para depois terminar a noite naquele boteco que até pode ser mal arrumado, mas o papo é de amigo.

É aqui que surge a proposta deste espaço, na esperança da presença constante de amigos que tenham opinião, para debater de forma saudável e agradável sobre quaisquer assuntos que forem propostos nos próximos posts. A relação dos debates anteriores sempre ficará exposta no Black Zombie e no Ex-Quase-Futuro, sendo que pode ficar no blog que você quiser, contando que o debate possa continuar e o assunto sempre receba a contribuição da opinião de quem consegue, quer e deve expressá-la.